E agora?! Mudei de cidade, estado…país?!
- Roberta Leite
- 8 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de ago. de 2024

Morar fora para você pode representar uma mudança para uma outra cidade, estado ou fora do país. De qualquer modo, tal mudança diz respeito a um “fora” do lugar que lhe é familiar, íntimo.
Fora do lugar onde sua história começou, onde os primeiros passos foram dados, as primeiras palavras foram pronunciadas, as primeiras identificações com pais, tios, professores, e toda uma lógica de costumes, hábitos, valores que lhe atravessam e fazem parte de você.
No entanto, à medida que começamos a caminhar com os nossos próprios pés, vamos nos
separando, aos poucos, desse primeiro lugar onde tudo era DENTRO e misturado; eu e minha mãe, eu e meu pai, eu e os outros que me nomeiam e me orientam.
Portanto, o nosso caminhar vai de um dentro para fora, claro que não é linear e com muitas tentativas de retorno a um “primeiro momento”. Aqui falo de um lugar imaginário, de completude no encontro com um outro (que pode ser representado pela relação primeira com a mãe), e reforçado ou não por experiências de outros encontros e acolhimentos na realidade vivida.
Esse movimento de “separações e retornos", que fazem partem do processo de construção e individuação humano, pode ser ilustrado pelo desenho de uma espiral com uma rota que é quase circular, 'quase' porque não se fecha. É um 'quase' retorno ao mesmo ponto, mas que progressivamente vai se distanciando dele. Sim, não é mais ao mesmo lugar de antes. Ou seja, pensando em nosso caminhar, há uma mudança constante de posição na relação com o entorno, indicando alguma diferença dada por esse processo natural de “ir e vir” numa constante busca de sentido e contorno à vida.
O primeiro lugar físico em geral, vivido como “fora” do familiar (da casa), é a escola. Esse movimento quando saudável, de diferenciação, de separação costuma ocorrer também por parte de nossos pais, ou responsáveis que também nos empurram para um novo lugar que propicie ao filho a possibilidade de começar a escrever sua própria a vida.
E a partir desse primeiro lugar físico diferente e que traz um universo e linguagem até então não conhecidos, seguirão novas experiências de “fora”: outras escolas, graduações, cursos, empregos. E, claro, tendo como efeito todas as camadas de vivências interpessoais que vão sendo construídas
De “dentro” para “fora” e de “fora” em “fora” fazemos nosso movimento pela vida.
As experiências que vamos acumulando no encontro com o desconhecido, o que não é familiar, podem nos motivar a novos encontros ou, a partir de experiências traumáticas, vivermos o "novo" com mais resistência e evitação.
Portanto, uma nova experiência relacionada à mudança geográfica pode ser vivenciada de modos radicalmente diferentes. De acordo com experiências passadas e como as apreendemos, vamos construindo uma forma singular de nos relacionar.
Sabemos que a mudança para uma outra cidade, ou mesmo país pode evocar doses maiores de experiência em relação ao que é sentido como estranho por serem culturas, sotaques, valores ou até mesmo idiomas diferentes.
Vivências mais radicais, especialmente, em lugares fora do país trazem muitas vezes sentimentos como: desamparo, solidão, saudade da família e uma sensação de falta de pertencimento.
É extremamente necessário se ouvir em relação a tais sentimentos, pois eles nos dão notícias do que está desconfortável e que precisa ser cuidado, precisa pensar que direção dar a esses sinais para que tais experiências possam ser compreendidas e manejadas de um modo muito particular e coerente com o que faz sentido para você viver.
Aqui cabe algumas perguntas:
O que desejo encontrar ao morar fora?
O modo como desejo viver combina com o lugar que vivo?
Podem haver momentos de dúvida e muitas saudades, mas existe também um percurso em que percebo construir um bem-viver?
Se questionar, de verdade, a partir do que sente e de suas buscas, auxilia a responder sobre o que faz sentido viver e seguir ainda que “fora” em sua busca. A psicoterapia pode lhe ajudar a uma maior entendimento sobre escolhas tão importantes.